Ao fazer um balanço dos sete meses de gestão, o presidente Michel Temer
afirmou nesta quinta-feira (22/12), que não cogita renunciar ao cargo e
que vai recorrer até ao Supremo Tribunal Federal caso o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) decida pela cassação da chapa Dilma-Temer.
Mesmo sem ter sido questionado sobre uma possível renúncia, Temer disse
que "não tem pensado" nisso.
Durante o café da manhã com
jornalistas no Palácio da Alvorada, o presidente foi perguntado sobre
uma eventual cassação da chapa reeleita em 2014 e sobre possíveis
impactos das investigações da Operação Lava Jato no mandato
presidencial. Em relação ao julgamento da ação que analisa se houve
abuso de poder econômico na eleição presidencial de 2014, Temer disse
que, caso o TSE decida pela cassação, "haverá recursos e mais recursos",
também ao Supremo.
Temer negou também que o ministro da Casa
Civil, Eliseu Padilha, vá deixar o governo. Ontem, a Coluna do Estadão
informou que Padilha pediu ao lobista Lúcio Funaro a entrega de dinheiro
no escritório do ex-assessor da Presidência José Yunes. Funaro teria
entregue a Yunes dinheiro em espécie repassado pela Odebrecht, empresa
alvo das investigação da Lava Jato. "Não tirarei o chefe da Casa Civil.
Não haverá mudança."
Além de negar mudanças no núcleo duro do
governo, o presidente também afirmou que, "no momento", não pensa em
realizar uma reforma ministerial no início do próximo ano.
Ao
lado dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo de Oliveira
(Planejamento), o presidente minimizou a baixa popularidade e comentou a
declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - que comparou o
atual governo a uma "pinguela" Temer disse que, quando criança, "nunca
caiu de uma". A seguir os principais trechos da entrevista:
TSE/delação/renúncia:
"Em havendo uma decisão (a favor da cassação) haverá recursos e mais
recursos, não só no TSE, mas no Supremo Tribunal Federal. Mas no dia que
o Judiciário tiver uma decisão definitiva, eu serei obediente a ela...
Segundo ponto, o fato de delatores terem mencionados nomes, digo com
muita frequência que no Brasil se formou a seguinte convicção: se um
delator mencionou o nome de alguém, ele [O ACUSADO]está definitivamente
condenado... Agora você me pergunta se eu vou renunciar? Eu confesso que
não tenho pensado nisso."
Reforma ministerial: "Não tirarei o
chefe da Casa Civil. Na verdade, ele continua firme e forte a frente da
Casa Civil. Hoje (ontem) verifiquei uma notícia de que ele seria
substituído por uma outra figura também exponencial, mas não haverá
mudança nenhuma. Sobre esse outro tópico de que haverá mudança ou não
(reforma ministerial) isso, naturalmente não sei o que vai acontecer lá
para frente, mas não cogito. Não há nenhuma intenção neste momento de
fazer qualquer alteração ministerial "
Vazamentos: "Quando mandei
a carta para o procurador-geral não me insurgi contra a Lava Jato. Me
insurgir contra a história, se tem 78, 80, 90 delações, não pode soltar
uma por semana. Digo que isso prejudica realmente, cria um clima de
instabilidade. Se for possível, acelere essas delações de modo que elas
possam logo ser remitidas ao Supremo Tribunal Federal, ao juízo
competente. Se nessas delações pessoas forem citadas, cada uma delas
saberá como justificar, como se defender "
Pinguela: "Quando eu
era menino, eu sou do interior do Estado de São Paulo, cidade pequena,
havia um riacho e eu e alguns colegas brincávamos muito colocando uma
pinguela para atravessar exatamente esse riacho... sabe que nunca caí,
embora fosse uma pinguela. Quando ouço essa expressão do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso é porque se percebe que há muitas amarguras,
paixões. No fundo quando o ex-presidente menciona, ele menciona que é um
pinguela, mas precisamos sustentar."
Erros: "Acho que eu tenho
muitos erros, muitos acertos, como é natural num governo. Agora, eu
quero repetir aqui a frase do presidente Juscelino: eu não tenho
compromisso com o erro. Quando eu percebo que erro, eu logo conserto. É
interessante quando você erra, as pessoas acham que você não pode
recuar. E daí vem 'Temer recua'... não me incomodo."
Popularidade:
"Não abro mão da popularidade. Dizem que há impopularidade. Isso me
incomoda? Digamos assim, é desagradável. Mas não me incomoda para
governar. Para governar, alguém até disse, há poucos dias: 'Olha, a
popularidade é uma jaula. Aproveite a impopularidade para fazer aquilo
que o Brasil precisa'. E é o que estou fazendo. Lá na frente haverá
reconhecimento. A verdade virá."
Desembarque do PSB: "O
interessante é que embora haja manifestações de que devem sair, isso
nunca chegou a mim. E nas votações do Congresso, ressalvada essa última
(da renegociação da dívida dos Estados), o PSB deu um número muito
significativo de votos. Ou seja, quando alguns líderes se manifestam não
sei se tem repercussões dentro da bancada."
FGTS: "Isso (o saque
de contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) vai
permitir que cerca de 10,2 milhões de trabalhadores possam sacar o saldo
de suas contas do FGTS. Os trabalhadores alcançados são aqueles que
possuem contas no FGTS inativas até 31/12/2015 (...) Há restrições para o
saque do saldo dessas contas (...) Nós estamos flexibilizando essa
exigência. Porque o momento que nós vivemos na economia demanda a adoção
de medidas que permitam, ainda que de forma parcial, uma recomposição
da renda do trabalhador (...) Portanto, é uma injeção de recursos que
vai mobilizar, movimentar a economia. E equivale, também pelos cálculos
do Planejamento, a cerca de 0,5% do PIB."