O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou a maior abstenção da
história no primeiro dia da prova impressa, no último domingo (17).
Cerca de 51% dos inscritos não foram fazer o teste de linguagens e
códigos, ciências humanas e redação. O índice corresponde a cerca de 2,8
milhões de candidatos
De acordo com o ministro da educação, Milton Ribeiro, o alto número de
faltas se deve a um trabalho contrário da “mídia” e ao “medo de
contaminação”.
As entidades de representação estudantil União
Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes) lutaram pelo adiamento do exame porque já esperavam
o alto número de abstenções pelo receio dos estudantes em se contaminar
com Covid-19 e a dificuldade de se preparar para a prova durante a
pandemia.
A presidente da Ubes, Rozana Barroso, afirmou que as
organizações procuram soluções para os candidatos que não fizeram a
prova no domingo. “As entidades estudantis buscam alternativas judiciais
para que os estudantes que não fizeram a prova (seja porque foram
barrados, seja por abstenção) possam realizá-la em fevereiro, na data
anunciada como alternativa”, diz.
De acordo com Rozana o índice
de abstenção foi alto não somente por causa da pandemia, mas também
porque o primeiro dia de provas foi marcado por falta de organização.
“Muitos estudantes não sabiam onde fariam a prova, muitos outros foram
barrados (por superlotação de salas)”, explica.
Segundo a
estudante, o cenário de desorganização na aplicação do exame poderia ser
ainda mais caótico se não fossem os candidatos faltantes. Rozana
relacionou também o número de abstenções ao fato de o Ministério da
Educação (MEC) ter ignorado a própria enquete aplicada aos estudantes,
na qual os alunos optaram por fazer a prova em maio.
“Não era o
momento para realizar a prova, definitivamente, até por questões de
segurança. Na enquete realizada pelo MEC, a maioria dos estudantes
escolheu o mês de maio como a melhor opção para a realização da prova. O
ministério ignorou a opinião da maioria.”
“Perdi um ano para não pegar Covid-19”, diz estudante que faltou o Enem.
As
2,8 milhões de abstenções no Enem causaram aos cofres públicos um
prejuízo de R$ 332,5 milhões. Cada aluno custa ao exame R$ 117.
Além
do prejuízo financeiro, os alunos perderam o ano de estudos. É o caso
de Matheus Azevedo, 20 anos, que pretende fazer engenharia de produção,
mas optou por não fazer o Enem.
Matheus deixou de fazer a prova
pelo risco de aglomerações e desorganização. “Eu já tinha feito o Enem
antes. Sabia da possibilidade de aglomeração e optei por não ir”, conta.
“Eu
me inscrevi antes da pandemia, mas tive receio do protocolo de
segurança. Minha mãe é do grupo de risco. Fiquei com medo de pegar covid
e de passar para ela”, desabafa.
A solução para aqueles que perderam a prova ou optaram por não a fazer é esperar o próximo Enem.
O
estudante ficou chateado por não prestar o exame. “Para fazer a prova
de novo, é mais um ano, mas eu julguei que era a decisão certa a se
tomar.”
Candidatos de Amazonas e de duas cidades de Rondônia participarão em reaplicação
Os
candidatos do estado do Amazonas não fizeram a prova dia 17, nem farão
24 de janeiro por conta da escalada da pandemia no estado na última
semana. Com isso, 160.548 estudantes amazonenses devem fazer as provas
em 23 e 24 de fevereiro.
A presidente da Ubes, Rozana Barroso,
prevê mais um índice grande de faltas. “As abstenções são reflexo da
situação de calamidade, da alta de casos, de internações, dos hospitais
lotados, e lamentavelmente, das mortes. Se a situação da pandemia está
descontrolada, a abstenção tende a ser alta.”
Ela afirmou que a
Ubes segue tentando a remarcação da prova. “Continuamos indicando o
adiamento pela segurança dos estudantes, suas famílias e todos
envolvidos”, afirma.
Ao Eu, Estudante, o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que
continuará unindo esforços, junto ao Ministério da Educação (MEC), “para
a adoção de soluções administrativas alternativas com vistas à
realização do Enem nas datas previstas de reaplicação, em 23 e 24 de
fevereiro”.
Além dos amazonenses, os moradores de Espigão
D’Oeste e Rolim de Moura, cidades em Rondônia, também farão a prova na
data alternativa de reaplicação
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