Alcadipani relatou que nunca havia visto cenas como as registradas no sábado, com a tropa de choque atirando bombas de gás lacrimogêneo nas casas que ficavam no caminho da manifestação.
A ação violenta da polícia aconteceu no momento em que os
manifestantes, que se concentraram na Praça do Derby, área central da
cidade, e seguiram em direção à Avenida Conde da Boa Vista, haviam
chegado à Ponte Duarte Coelho.
Um dos feridos foi Jonas Correia de França, de 29 anos, atingido no olho direito por um dos disparos. Ele não fazia parte da manifestação
e estava saindo do trabalho, andando de bicicleta. Enquanto conversava
com a esposa, ele foi atingido por um tiro, disparado a poucos metros de
distância.
"Isso é completamente inaceitável. O policial [tem] a função de
preservar a vida. Quando tem uma pessoa ferida, tem que pedir socorro.
[...] Isso mostra mais um requinte de crueldade da ação policial naquele
caso. A pessoa perde o olho e nem sequer pode ser socorrida", declarou
um dos coordenadores do Atlas da Violência, Daniel Cerqueira.
Pesquisador há 22 anos, ele também condenou o lançamento de bombas e disparos contra os manifestantes.
"Essas ações têm que ser usadas apenas em situações de distúrbios. O protocolo, quando se usa arma com munição de borracha, [é de que] tem que haver uma distância de no mínimo 20 metros e os tiros têm que partir em direção às pernas das pessoas e nunca na direção dos olhos. São armas que eventualmente podem até matar", afirmou.
Ainda no sábado (29), a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) declarou que o estado não tinha determinado a ação. Na segunda (31), o secretário de Justiça, Pedro Eurico, repetiu que a ordem não partiu do governo e disse que "não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco".
Na terça (1º), o secretário de Defesa Social Antonio de Pádua esteve na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para uma reunião na Comissão de Direitos Humanos, mas saiu sem falar com a imprensa.
Na quinta-feira (3), em entrevista à TV Globo, Pádua afirmou que teria partido do próprio campo operacional a ordem para atirar nos manifestantes.
Ele disse que essa é uma das hipóteses investigadas pela Corregedoria
Geral da SDS, que apura a conduta dos policiais durante o ato.