As principais bacias no Sertão
A principal área produtora de leite no estado é o Agreste Meridional e Sertão do Moxotó. Entretanto há de se notar que duas outras áreas se destacam. O Sertão do Araripe, tendo como destaque os municípios de Bodocó, Araripina, Granito e Ouricuri e o Oeste do Sertão do São Francisco representado por Afrânio e Dormentes.
No caso do Araripe prevalece a pecuária bovina, fortemente marcada pela presença do Girolando, um animal bem mais adaptado ao clima da região e ao manejo dos produtores locais. A produção de leite é predominante destinada à fabricação do queijo de coalho, sobrando um pouco para o queijo de manteiga e a manteiga. São dezenas de fabriquetas distribuídas em Bodocó e cidades vizinhas. Esses produtos têm como destino toda a região do Sertão e em particular a região de Petrolina.
Há alguns anos houve uma ação louvável, mas com resultados abaixo do esperado que foi o financiamento de uma central de produção e comercialização do queijo. Infraestrutura que contaria com doze pequenos laticínios e local onde os intermediários e comerciantes iriam adquirir tais produtos. Literalmente faltou combinar com os russos e ao final nenhum produtor optou por sair de sua casa, seu curral e seu gado e a obra virou um pequeno elefante sem função e objetivo.
Pernambuco e sua pecuária de leite
No Agreste Meridional e no Moxotó em que pese a grande produção a nível estadual, há duas questões políticas a ser resolvida pelo próximo governo estadual, a tributação do leite e lácteos produzidos nos fora do estado e o processamento de leite em pó.
No primeiro caso tanto o leite in natura produzido em Alagoas e até Sergipe entra no território pernambucano sem tributação ou com um monitoramento falho, o que obrigatoriamente implica no achatamento dos preços do leite processado. Já a diluição do leite em pós e comercialização como se fosse in natura, uma legislação frutos das negociações com os laticínios durante o ciclo de secas que se estendeu entre 2012 e 2018 não foi atualizada após o retorno dos períodos com chuvas normais e, assim algumas empresas têm sido beneficiadas de isenções de impostos que deveriam ter caído desde 2019
Até o presento o governo estadual não tem se posicionado claramente e deixado o barco correr, o que não poderá ser objeto de adiamento por tempo indeterminado sob o risco de extinguir-se a produção de leite no estado. O produtor está cada dia menos capitalizado, mais endividado e fugindo da atividade. Atualmente é uma cadeia produtiva ausente de jovens. Esses não têm sido retidos nas propriedades e se deslocam para as cidades por salários-mínimos ou na ânsia de ser uma MEI – Microempresa individual, tornando-se um motorista para a Uber.
Aproveitamento da tecnologia disponível
A produção leiteira estadual ainda é assentada sobre bases tradicionais destacando-se duas tecnologias tradicionais: a raça holandesa a partir do rebanho mantido a duras penas na Estação do IPA em São Bento do Uma e as cultivares de palma forrageira tolerantes ou até se pode dizer resistentes, tendo como fonte a Estação Experimental do IPA em Arcoverde,
Trabalhos liderados pelo Sebrae PE reforçam o melhoramento de rebanho através da aplicação da transferência de embriões algo ainda não popularmente adotado por todo bem como o aspecto sanitários dos rebanhos. Além dos pontos citados muito há a se fazer quer no campo quanto ao processo industrial e comercialização. O Importante é que se avance o mais rápido sob o risco de vermos extintos os pequenos produtores de leite.
A situação de Serra Talhada e do Pajeú
Serrar Talhada é um município que representa bem as dificuldades apontadas anteriormente. Até poucos anos atrás contou com um laticínio que recebia o leite produzido por dezenas de pecuaristas. Ao que parece faltou a compreensão da indústria sobre necessidade de se remunerar o produtor de modo digno de forma que ele fosse compelido a permaneceu no mercado. O cenário foi se complicando até sua bancarrota, deixando os produtores que sobreviviam mantinham a produção sem uma demanda definida. O que resta de leite fluido é distribuído informalmente em sacos plásticos, mas a cada dia nota a redução dos pecuaristas especializados em leite no município.
Surpresa se deu durante a ExpoSerra, uma feira de negócios que ocorreu no último mês de agosto, ao se deparar com o queijo de manteiga proveniente de um laticínio do município de Brejinho. Um produto de ótima qualidade demonstrando que incentivar o surgimento de outras empresas processadoras de pequeno e médio porte nas demais regiões do estado pode ser uma boa opção de suporte ao pequeno e médio produtor.
Por último é importante mencionar a aposta que vem sendo feita na reconfiguração da produção de leite de cabra em vários locais do Sertão do Pajeú e do Sertão de Itaparica em um projeto liderado pelo Sebrae PE, pela ADEPE e um número razoável de produtores. Espera-se que desta vez esta iniciativa prospere e não seja mais um esforço vão, tal qual ocorrido em situações prévias.
Por Geraldo Eugênio*
*Geraldo Eugênio é Professor Titular da UFRPE-UAST