O sucesso pode ser explicado por diferentes fatores: a voz grave do garoto de 18 anos,
natural de Serrita, em Pernambuco, a força renovada do forró de
vaquejada e o "ãhn ãhn ãhn" do refrão, que ajudou o hit a viralizar no
TikTok.
Na rede social, as pessoas começaram a usar o trecho com vídeos de
situações cotidianas ou inesperadas. Alguém que nem beijou o crush
ainda, mas já está apaixonado, um casal que achava que não ia ser nada
sério, mas está junto há anos, e por aí vai....
Mas a intenção de João era sentir o ritmo da música, sem nenhum outro sentido por trás.
Gomes escreveu a música com o amigo e produtor Daniel Mendes, que já
tinha o verso "Tô querendo de pegar de novo..." na cabeça.
"Eu olhei assim e perguntei 'beijar não é melhor, não?'. Daí a gente
foi acertando como ia ficar, mas em pouco tempo terminamos o verso",
explica ao G1.
O cantor justifica que o começo é mais acelerado, como uma "matraca",
para criar momentos diferentes na música. "Achei muito meloso, não
queria continuar daquele jeito, tinha que ser ligeiro".
A rapidez também gerou ruídos com a voz grave e ainda pouco articulada
do cantor. "Quando alguém lançava um vídeo legendado, o povo falava
'ainda bem que alguém traduziu a música'", diz, levando na esportiva.
João estudava agropecuária no Instituto Federal da Zona Rural de
Petrolina, em 2019, e topou cantar com os amigos que tocavam em uma
reunião da turma.
"O povo foi sentando ao redor assim e foi gostando. Eu disse: 'Rapaz, esse negócio aqui de cantar forró é bom'".
Eles se apresentaram no São João daquele ano e o repertório que era para ser de cinco músicas, foi aumentando, aumentando...
"Cantei meio mundo de música, até as que não sabia inteira, eu cantei.
Sabia só o refrão e ficava lá cantando para a galera da escola".
João estudava agropecuária no Instituto Federal da Zona Rural de
Petrolina, em 2019, e topou cantar com os amigos que tocavam em uma
reunião da turma.
"O povo foi sentando ao redor assim e foi gostando. Eu disse: 'Rapaz, esse negócio aqui de cantar forró é bom'".
Eles se apresentaram no São João daquele ano e o repertório que era para ser de cinco músicas, foi aumentando, aumentando...
"Cantei meio mundo de música, até as que não sabia inteira, eu cantei.
Sabia só o refrão e ficava lá cantando para a galera da escola".
A dura realidade de quem trabalha no campo é motivo de inspiração para
João, que nasceu na capital do vaqueiro, Serrita (PE). Ele mora em
Petrolina desde pequeno, mas foi na cidade natal que teve mais contato
com a cultura de vaquejada.
"Trabalhei uns poucos dias no campo, mas sei que é pesado. Minha mãe e
meu avô sempre trabalharam com isso. Foi a escola que tive foi ver o
quanto esse pessoal sofria, mas mesmo assim, no final de semana ia em
festas, se divertindo e tudo", diz.
"É por isso que faço uma música mais animada, porque a música é remédio
depois de um trabalho pesado. Quando eu canto 'Levanta cedo para labuta
que eu tô pronto', isso não é pra mim".
"Canto para esse povo, canto para ser o remédio dessa galera que sofre demais, na labuta, todo dia", afirma.
Ele também fica feliz com a possibilidade de apresentar novas músicas no estilo e até canções antigas para os mais jovens.
"Sei que se a música for boa, como foi no tempo deles, vai trazer
alguma coisa para o coração de quem é mais velho e vai encantar quem é
mais novo. Tem muita música boa ainda, muita mesmo".
Ele também tem como referências Belchior e Cartola, artistas que
encontrou ouvindo música na internet. "Procurei a fundo saber quem eram e
gostei bastante das músicas, bateu no meu coração, não teve jeito de
não gostar".
O nome de João se junta ao de Tarcísio do Acordeon, outro cantor do
gênero que surgiu no ano passado. Os dois artistas foram lançados pelo
mesmo empresário de Petrolina, Jeovane Guedes.
Sem meses de planejamento ou longas reuniões de marketing, os trabalhos
dos dois artistas chegaram no mercado rapidamente e, de cara, fizeram
muito sucesso.
João conheceu Guedes em fevereiro e o empresário já saiu da reunião com
"Eu Tenho a Senha" para Tarcísio gravar. Era a primeira composição de
João, que não cobrou nada pela música, só falou que queria uma
oportunidade.
João entrou no estúdio pela primeira vez na vida na metade de maio e,
em dois dias, gravou sua parte do álbum "Eu Tenho a Senha".
Praticamente uma semana depois, o disco já estava disponível no Sua Música, agência e distribuidora musical forte do Nordeste.
"Eu sentia que sempre teve uma brecha para essa linha vaquejada, mais
sertão mesmo. Agora, o Brasil está começando a aceitar novos ritmos, sem
ter aquele preconceito. O pessoal quer músicas e melodias boas para se
identificar com elas".
Além de Tarcísio e João, a empresa de Guedes também administra as carreiras de Vitor Fernandes e Biu do Piseiro.
Pé no chão mesmo com todo sucesso, João agradece a Deus repetidas vezes
e diz que tudo que está vivendo "é muito mais do que pediu".
"Pensava que quando fosse gravar um CD, ia ter 10 mil seguidores e 5 mil pessoas iam ver... E estava tudo bem para mim", diz.
"Quando 1 milhão de pessoas ouviram o álbum, comecei a pular, bater nas
paredes... Quem estava ao redor sabe a alegria que foi". E os números
já vão muito além disso:
O show gravado em Fortaleza foi uma das poucas vezes que João esteve em um palco, ainda sem público.
Ele também participou de duas lives de São João, com Xand Avião e em
uma na programação junina Sua Música. "Foi muita pressão, mas tenho que
ir para cima dos desafios".
"Desde que conheci alguns companheiros de banda, meu sonho sempre foi
tornar possível o deles também. Comprar uma sanfona melhor pro
sanfoneiro, uma pedaleira para o guitarrista... Isso para mim é a maior
alegria".
O cantor já conseguiu dar o presente para os músicos e ganhou o ônibus
para viajar com a banda nesta semana. As cenas foram parar entre os
assuntos mais comentados do Twitter.
Mesmo com a carreira caminhando a passos rápidos, João ainda tem
dificuldade de imaginar que pode ter milhares de fãs espalhados pelo
Brasil esperando por seus shows.
"Tá aí a questão que a gente só vai descobrir no primeiro [show].
Quando o mercado abrir que vou descobrir se a galera está esperando um
show meu. Fico naquela expectativa, será que vai ser assim?". Eu conto
ou vocês?